sábado, 12 de março de 2011

Geração à rasca


Não é meu hábito colocar comentários políticos aqui no blog, mas hoje, dia em que perto de trezentas mil pessoas desceram a Avenida da Liberdade, em Lisboa, oitenta mil se concentraram na Praça da Batalha, e mais umas quantas em várias cidades de Portugal, resolvi falar sobre precariedade, e contar um caso...
Para não comprometer nem ferir susceptibilidades, este caso é construído a partir de vários casos com que me deparei.

"Acabada de sair da faculdade com um curso de psicologia, Marta começou a estagiar num hospital público. O estágio era voluntário e não remunerado. Durante este "estágio", exercia as funções de psicóloga no serviço.
Marta esteve dois anos nesta situação. Por insistência do chefe de serviço, por necessidade manifesta do Hospital, foi contratada. Contudo, como as admissões à Função Pública tinham sido congeladas, foi outorgado um contrato de trabalho a termo certo, pelo período de 6 meses. De acordo com a legislação laboral vigente, este tipo de contratos destina-se/destinava-se à satisfação de necessidade temporária do empregador e era renovável, até duas vezes, por iguais períodos.
Face à manutenção da necessidade de uma psicóloga no serviço, Marta foi vendo o seu contrato renovado.
Quando o período da última renovação terminou, e perante a incapacidade de abrir vaga, propuseram-lhe uma solução muito simples. Ficava sem trabalhar durante uma semana, período eufemisticamente designado por "pausa de contrato" e seria contratada novamente a seguir.
Entretanto, Marta saiu de casa dos pais e casou, com o então namorado e com um empréstimo bancário, porque comprou casa. Do ponto de vista formativo, evoluiu: fez formação em várias correntes de psicoterapia e iniciou um Doutoramento.
Ao fim de oito anos a contratos a termo certo, comunicaram-lhe a impossibilidade de a contratar novamente. E, ou começava a passar recibos verdes a uma empresa de trabalho temporário, que, por sua vez, cobrava ao Hospital a um preço significativamente superior ao que lhe pagava, ou iria para o desemprego, com tudo o que isso significava em termos de incumprimento das responsabilidades assumidas.
Continuava sob a alçada da hierarquia do Hospital, e todo o expediente passava pelo Serviço de Recursos Humanos do mesmo. Contudo, sem direito a subsídio de doença ou a férias.
Marta optou pela primeira opção. Até ao dia em que, de surpresa, a chamaram ao Serviço de Recursos Humanos. Comunicaram-lhe, no dia 15, que a partir do início do mês seguinte estaria despedida.
Neste momento, Marta está a terminar o doutoramento e pondera emigrar."

Poder-se-ia perguntar que Estado é este que se dá ao luxo de infringir as suas próprias leis, de contratar precariamente para depois deitar ao lixo profissionais altamente diferenciados, ou de, pelo mesmo trabalho, pagar mais a uma empresa de trabalho temporário do que abrir o quadro para contratar profissionais.

Poder-se-ia questionar que Valores são estes que o norteiam, mais do que a crise económica ou política.

Eu penso que é isso que é preciso mudar. E é preciso que os Portugueses mudem a postura passivo-agressiva que têm em relação ao Estado. É preciso que os Portugueses se mobilizem, envolvam socialmente, lutem, para que deixem de ver o Estado como uma Entidade vil, pouco idónea, desonesta, estranha, que lhes suga os impostos, e que é preciso enganar a todo o custo.

É necessário mudar Valores, tanto quanto a Economia ou a Política, para que as Martas deste País, que existem em todas as profissões, sejam reconhecidas pelo seu valor e não pela sua rede de conhecimentos.

domingo, 6 de março de 2011

Voltei.

Para a meia dúzia de pessoas que me lê, aqui vão algumas respostas em relação a algumas questões que foram enviadas, pela Aula de Informática da Universidade da Terceira Idade de Santo António dos Besugos, directamente para o e-mail do blog...

1) D. Amélia: Estive em periodo sabático. Sim, tem que ver com os Black Sabbath, de que a senhora tanto gosta. Aliás, eu sempre quis pintar a cara como o Ozzy Osbourne. Nunca tive foi coragem nem "maquiage"...


2) D. Eufrásia: Não, senhora. Sugiro que para notícias relacionadas com o estado do processo do Carlos Castro se dirija ao Correio da Manhã... Infelizmente, por questões relacionadas com os direitos de transmissão, estou impedido de mandar qualquer tipo de postas de pescada em relação a isso. Sugiro procurar na secção "comentários". Encontra, decerto, gente muito mais avalizada do que eu para o fazer, tamanho é o grau de certeza das suas afirmações.

3) D. Natércia: Muito obrigado! Admito que goste do meu programa das manhãs. Contudo, devo dizer que não tenho nenhum. Ah, e já agora, nunca fiz de Adolfo em nenhuma novela da TVI, como V. Exª refere. Tenho abdominais a mais...

4) Sr. Benevides: Ainda que este blog faça, por vezes, previsões, conhecimentos mais profundos sobre a interpretação da imagem de satélite impedem-nos de tecer qualquer tipo de conjecturas em relação ao estado  do tempo na Carregadinha. Não, também não sei qual a melhor altura para plantar a couve-flor...

5) Sr. José: Tem toda a razão naquilo que diz. As Universidades de Terceira Idade constituem uma excelente fora de manter o cérebro activo e constituem uma excelente rede social de suporte. Porém, o facto de ser uma rede Social não implica que se possa escrever no mural. Em relação à sua questão, a vasta equipa que escreve este blog está a tratar de fazer um perfil numa rede social um pouco mais pequena - o Facebook. Contudo, não poderei, como o senhor pretende, colocar uma fotografia de uma loiraça de 20 anos, de peito avantajado. e colocar frases mais arrojadas... Isso está fora de questão!!!

6) D. Adília: Concordo em absoluto consigo. Este blog espera não aderir ao acordo ortográfico, a não ser que façam uma extensão do mesmo para as mensagens sms, e que o dicionário do Prof. Malaca Casteleiro passe a incluir smileys :-)

Respondidas estas questões, seleccionadas, e excluídas outras, que a comissão de censura do blog não permitiu que fossem respondidas, agora que deixei de estar submerso debaixo de uma pilha de tratados de psicopatologia, fenomenologia, psicofarmacologia, história da psiquiatria e bricolage, tenho a dizer-vos que voltei. E que espero, caso não venha o FMI e o tempo não piore na Carregadinha, manter-me por este cantinho...